A PRÓXIMA POSTAGEM SERÁ NO DIA 16 DE DEZEMBRO
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terça-feira, 27 de outubro de 2009

LENDA DE S.VICENTE

LENDA DE S.VICENTE

No Brasão d’Armas que se apresenta na bandeira municipal de Lisboa, encontra-se, ao centro, um barco negro, rematado, à popa e à proa, por dois corvos.



Esta figura foi mandada colocar lá por D.Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, depois da tomada de Lisboa, cidade que dedicou a S.Vicente.
Pensa-se que o significado dessa figura esteja ligado à lenda de S.Vicente.
Esta lenda remonta a quase um milénio, evocando os primeiros tempos da implantação do cristianismo na Península Ibérica, à data sob o domínio de Roma; seguiu-se a ocupação árabe, e, por fim, a Reconquista cristã.

Segundo a «crónica de D. Afonso Henriques», de Duarte Galvão, Vicente terá nascido em Huesca, nos Pirinéus.
Novo ainda foi enviado para Espanha pelo Papa; tornou-se acólito do bispo de Valência, distinguindo-se como brilhante orador.
Estava-se nos tempos do imperador Dioclesiano (284-305 d.C.), que moveu ferozes perseguições aos cristãos. O seu agente para a Península Ibérica era Daciano.
Tomando conhecimento da notoriedade de Vicente, Daciano ordenou que o levassem á sua presença, exigindo explicações pela pregação subversiva que fazia, querendo obrigá-lo a renunciar à fé cristã.
Vicente não se deixou intimidar; ao contrário, louvou Cristo com grande fervor e eloquência, perante o olhar atónito do romano.
Daciano ordenou que o torturassem repetidas vezes, mas Vicente acabou por morrer sem nunca renunciar à sua fé.
O romano vociferou: «Se não o venci em vida, morto o vencerei e desfarei». E mandou que o seu corpo fosse despejado num campo, onde ficou à mercê dos animais selvagens.
O corpo de Vicente não chegou a ser profanado porque um corvo o defendeu, impedindo as feras de se aproximarem.
Ao ter conhecimento do facto, Daciano, furioso, mandou que atassem o cadáver a uma pedra e o deitassem ao mar, para que lá se desfizesse. As suas ordens foram cumpridas.
Mas, por milagre, o corpo de Vicente voltou de novo a terra. Foi recolhido por cristãos que lhe deram sepultura cristã, tendo-lhe sido atribuídos, posteriormente, vários milagres.
O culto de S.Vicente espalhou-se então pela Europa, especialmente na Península Ibérica.


Representação de S. Vicente, com narrativa visual dos episódios principais.

Os conquistadores mouros, quando chegaram, destruíram todos os templos cristãos, convertendo alguns em mesquitas, e queimaram os ossos dos mártires.
Perante a iminência da sua chegada a Valência, os cristãos que zelavam a sepultura de S.Vicente, fugiram levando as relíquias do santo.

No Cabo de S.Vicente, no Algarve, mesmo à beira da escarpa, existe uma capela que foi dedicada a Santa Catarina. No lado oposto encontram-se as ruínas da antiquíssima Igreja do Corvo, dedicada a S.Vicente.
Supõe-se que lá foram depositados os restos mortais do santo, que ficaram a ser guardados pelos cristãos que os haviam trazido de Valência.
Um dia chegou ali um cavaleiro Mouro, de nome Albofacem, natural do reino de Fez, que morava “naquela terra dos Algarves”.
Encontrando os homens a guardar o corpo, matou-os, deixando o corpo.
Afonso Henriques, depois de conquistar Lisboa e estabilizar as fronteiras no Rio Tejo, enviou uns homens numa barcaça ao Algarve, à data ainda território inimigo, a fim de resgatar as relíquias do santo.
Chegados lá desembarcaram, e, orando com fervor, pediram a Deus que lhes mostrasse o local onde se encontravam os restos mortais do glorioso mártir.
Começando a escavar encontraram o corpo. Colocando-o no barco regressaram a Lisboa sem qualquer sobressalto, visto que até o mar se acalmava à sua passagem.
Durante a viagem a barca que trazia os restos mortais do santo foi sempre acompanhada por um corvo, que imediatamente foi relacionado com o corvo que o protegera ainda no tempo dos romanos.
Chegado o féretro a Lisboa, D.Afonso Henriques ficou muito comovido, “louvando muito ao Senhor Deos”, e ordenando que o sepultassem na Sé, onde o corvo continuou a velar o santo e «ali foi visto por muitos tempos»

O brasão tem dois corvos. Se só um acompanhou Vicente na sua última viagem, donde virá o outro? Parece não haver resposta para isso; o que é certo é que, popularmente, começou a constar que dois corvos, e não apenas um, acompanharam a barcaça.
Seja qual for a explicação que se dê, é indiferente, porque se trata apenas de lenda.
Entretanto há várias terras a disputar o corpo de S.Vicente: há relíquias do santo em Castres, Cremona e Bari, pelo menos.

Hoje, S.Vicente é padroeiro secundário de Lisboa, porque, entretanto, apareceu o casamenteiro Santo António.