A PRÓXIMA POSTAGEM SERÁ NO DIA 16 DE DEZEMBRO
A PRÓXIMA POSTAGEM SERÁ NO DIA 16 DE DEZEMBRO

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

MENSAGEM DE ANO NOVO

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ANO NOVO
Querido e esperado Ano Novo.
Faço parte das muitas Marias esperanças deste imenso mundo que tens pela frente e te saúdo:
– Sejas bem-vindo!
Terás muito trabalho e espero que estejas preparado.
Temos um solo fértil onde tudo que se planta se colhe, mas precisas saber que ele não está tão fértil. O homem tem destruído as riquezas naturais com as queimadas, o uso exagerado de agrotóxicos e outras atrocidades. Sem contar a roda do aquecimento global, que durante o teu mandato, entenderás melhor.
Verás um céu azul, mas não tão azul, pois todos os dias são lançados no ar gases e fumaças poluentes que escondem boa parte do céu, mas ainda conseguimos ver o arco-íris e o gigantesco sol, este está se tornando cada vez mais gigantesco, por causa do aquecimento global.
Encontrarás muita água doce, mas não muito doce, porque todos os dias são jogados toneladas de lixos e materiais poluentes nos rios e seus afluentes. Não imaginas a quantidade de peixes que morrem, daria para alimentar muita gente que também morre de fome neste mundo.
Terás uma floresta de árvores nativas e de animais de espécies variadas, mas sentirás a falta de muitas delas, pois, as motoserras são usadas para decepar-lhes a vida, e muitos animais já estão em extinção, sabes por quê?
- Porque os homens querem domesticá-los e quando isso se torna impossível, matam por mero prazer, acentuando-se quem são os verdadeiros animais irracionais. Não sei se estás conseguindo me entender, mas em pouco tempo entenderás.
Verás muitas crianças, mas infelizmente muitas delas foram abortadas e jogadas no lixo, outras lutaram contra o aborto e conseguiram nascer, mas foram jogadas vivas nos rios, sarjetas, esgotos ou num canto qualquer e outras morreram nas ruas causticantes das cidades grandes.
Encontrarás muitos homens, mas nem todos, porque eles matam uns aos outros, temos até homem-bomba que se submete a morrer para matar centenas de pessoas. Ah! Que tristeza!
Encontrarás saúde, mas ainda assim, morrem todos os dias homens, mulheres e crianças, vítimas do descaso social.
Ainda temos a ESPERANÇA. Embora, a cada ano, ela morra um pouco dentro de cada um de nós.
A única certeza que temos é a presença de DEUS, este sim, não mudou e continua acreditando em nós e acreditará em ti.
Não te contei tudo isso para que fiques desanimado e sim para nos encorajar e nos ajudar a preservar o que temos e criar um mundo melhor.
Que consigas com tua força, realizar todos os nossos sonhos.

SILVIA TREVISANI


Silvia Cristina Martins Trevisani
(Poetisa paulista)
Campinas/SP – Brasil

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

LENDA DA ÁRVORE DE NATAL

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A tradição da Árvore de Natal é bem antiga (segundo ou terceiro milénio A.C.), quando povos indo-europeus consideravam as árvores uma expressão da energia de fertilidade da Natureza, e por isso lhes rendiam culto

São inúmeras as lendas que existem sobre a origem da Árvore de Natal.
Acho particularmente bonita uma lenda de origem inglesa, que reza mais ou menos assim:
Quando nasceu o Menino Jesus toda a Natureza se alegrou. Pessoas, animais e até árvores e flores se sentiram felizes.
No exterior do estábulo onde o Menino dormia existiam três árvores:
Uma palmeira, uma oliveira e um pequeno pinheirinho.
Todos os dias as pessoas passavam e deixavam presentes ao Menino.
As árvores, falando entre si, entenderam que também elas deveriam oferecer-Lhe algo.
- Eu vou oferecer-Lhe a minha folha mais larga – disse a palmeira. Assim, quando chegar o calor, Ele pode abanar-se com ela e sentir-se mais fresco.
- Pois eu vou dar-Lhe óleo – atalhou a oliveira. Óleos perfumados podem ser feitos a partir do meu sangue, e com eles o Menino sentir-se-á mais confortável.
O pinheirinho ouvia-as em silêncio. Com um ar muito triste perguntou:
- E eu? Que posso eu oferecer-Lhe? Não tenho nada que possa ser útil…
- Tu?- responderam as outras duas. As tuas folhas são aguçadas e picam. Tu não tens mesmo nada para oferecer…
O pequeno pinheirinho ficou muito triste. Pensou, pensou, mas não descobria nada para oferecer ao Menino, qualquer coisa de que Ele pudesse gostar…
Então um anjo, que tinha ouvido a conversa toda, sentiu pena da arvorezinha que não tinha nada para dar ao Menino.
O anjo olhou para o céu e viu que as estrelas brilhavam intensamente.
Uma a uma, de mansinho, o anjo trouxe-as para baixo, e colocou-as nos ramos pontiagudos do pinheiro.
Dentro do estábulo o Menino acordou e olhou para as três árvores que se encontravam à entrada da gruta, recortando-se no céu escuro.
De repente as folhas negras do pinheiro brilharam, resplandecentes, porque nelas descansavam as estrelas.
Como estava lindo o pinheiro que não tinha nada para oferecer ao Menino!
Então, o Menino Jesus levantou as mãozinhas, como fazem todos os bebés, e sorriu para aquela árvore que lhe iluminava a escuridão da noite.
Desde esse momento o pinheiro ficou a ser, para todo o sempre, a Árvore de Natal.

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LENDA DA FONTE DA PEDRA

Alvoco da Serra

Alvoco da Serra é uma povoação que fica na Serra da Estrela, entre Unhais da Serra e Loriga, a 740 metros de altitude.
Em Alvoco há um troço de calçada romana junto à rua principal.

Ponte romana

Os monumentos megalíticos que ali existem em profusão são prova de que a povoação já existia nos tempos de Viriato e, provavelmente, em eras anteriores.
Daí que seja credível a lenda que conta a passagem da Sagrada Família por aquelas paragens, a chamada

Lenda da Fonte da Pedra

Reza a história que quando Herodes perseguiu S. José, Nossa Senhora e o Menino Jesus eles fugiram para o Egipto.
Na sua fuga acabaram por vir ter a Alvoco da Serra. Ao atravessar a serra Nossa Senhora, sentindo-se muito cansada, quis fazer uma paragem. Todos sentiam muita sede, mas não se via água em lado algum.
S. José, vendo uma pedra ali próximo, ordenou ao burro:
- Dá um coice na pedra.
O burro obedeceu, mas a pedra não tugiu.
S. José disse novamente ao burro:
- Dá um coice na pedra.
O burro deu novo coice, e a pedra gemeu.
S. José disse, mais uma vez, ao burro:
- Dá um coice na pedra.
E, ao terceiro coice do burro, a pedra chorou, e assim brotou uma nascente de água, com que todos mitigaram a sede.
A partir daí a Fonte passou a chamar-se Fonte da Pedra, e tem poderes curativos, como, por exemplo, tirar os “cravos” e verrugas das mãos.
Ainda lá estão as três marcas dos coices.
A primeira está seca – não tugiu
A segunda tem um pequeno fio de água – gemeu
A terceira é a nascente – chorou

A “lenda da fonte” termina aqui, mas a “história” continua com vários episódios, dos quais destaco um, que me parece de maior relevo:

…Tinha a Sagrada Família retomado a sua marcha quando chegaram a um terreno onde várias pessoas semeavam a terra. S. José perguntou:
- Que semeais aqui?
- Semeamos pão. (entenda-se por centeio)
- Pois voltai amanhã e pão colhereis.
E assim aconteceu. No dia seguinte as pessoas voltaram e encontraram o terreno repleto de centeio maduro, pronto para a ceifa.
Entretanto, o rei Herodes não se conformou com a fuga da Sagrada Família e mandou soldados no seu encalço. Estes seguiram o mesmo percurso da Fonte da Pedra até que chegaram ao local onde as pessoas ceifavam o centeio. Os soldados perguntaram às pessoas:
- Viram passar um homem a conduzir um burro, onde ia uma mulher com um menino ao colo?
- Vimos, sim senhor – responderam os ceifeiros. Passaram aqui quando estávamos a semear este terreno.
Ao ouvir isto, exclamaram os soldados:
- Ah! Estavam a semear? Então já passaram há muito tempo. Já não os conseguimos apanhar.
E voltaram para trás, desistindo da perseguição.
S. José, Nossa Senhora e o Menino Jesus estavam escondidos ali perto, atrás dum arbusto. Depois de verem que os soldados voltavam para trás continuaram o seu caminho descansados.


Origem da lenda: Alvoco da Serra, concelho de Seia! O seu a seu dono! :)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

PEDIDO DE DEMISSÃO

Hoje proponho-vos um texto para reflexão.

PEDIDO DE DEMISSÃO
Venho, através desta, apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos.

Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as idéias de uma criança de 8 anos no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possivel.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim, e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo...
Quero de volta uma vida simples e sem complicações.

Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanha de papeladas, notícias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças e
necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe!!!!!!!!!
Não quero mais ter que inventar jeitos para fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigado a dizer adeus às pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida!
Quero ter a certeza de que DEUS está no céu, e de que por isso tudo está direitinho neste mundo...
Quero viajar ao redor do mundo, num barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida!
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro caju, a primeira manga, ou quando a jabuticabeira ficar pretinha de frutas.
Quero poder passar as tardes de verão numa bela praia, construindo castelos na areia e dividindo-os com meus amigos...
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de bola de gude ou uma pelada...
Quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, a “Batatinha quando nasce...” e a “Ave Maria...”, e que isso não me incomodava nadinha porque eu não tinha a menor idéia de quantas coisas eu ainda não sabia.
Quero voltar ao tempo em que se era feliz simplesmente porque se vivia na bendita ignorância da existência de coisas que podiam nos preocupar ou aborrecer...
Quero poder acreditar no poder dos sorrisos, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Quero estar convencida de que tudo isso... vale muito mais do que o dinheiro!
A partir de hoje, isto é com vocês, porque eu estou me demitindo da vida de adulto.

Demita-se, você também, dessa sua vida chata de adulto

NÃO TENHA MEDO DE SER FELIZ!

Texto de: Maria Clara Isoldi White

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

LENDA DO XÁ DE SAMARKANDA

Em tempos longínquos houve, em Samarkanda, um Xá, que ficou conhecido pela sua bondade e sentido de justiça.
Um dia, resolvendo viajar, saiu da sua cidade, à data capital do Turquestão, acompanhado do seu fiel criado.

Naqueles tempos as viagens eram demoradas e cansativas, por isso o Xá resolveu fazer uma paragem.
Depois de devidamente acomodados na estalagem, disse para o seu criado:
- Vai ao mercado e traz-me fruta fresca.

O criado obedeceu prontamente.
A caminho do mercado apareceu-lhe, de súbito, a Morte, com um ar lívido, disforme, uma boca enorme.
Olhou para o criado com um enorme ar de espanto estampado no rosto.

Aterrorizado, sem fala, o criado, sem pensar em cumprir as ordens de seu amo, retrocedeu de imediato.

Ao vê-lo naquele estado, e sem a fruta, o Xá perguntou o que acontecera, ao que ele respondeu:
- Vi a morte! E ela olhava-me duma maneira assustadora.
Preciso voltar hoje mesmo para Samarkanda, encontrar a minha família. Tens que me deixar sair daqui!
O Xá deixou-o partir, mas ficou a pensar:
– Porque é que a Morte fez isto?
Como desejava mesmo a fruta, pôs de parte os seus pergaminhos, - no fundo, ele era o Xá do Turquestão – e encaminhou-se para o mercado.

Encontrando a Morte, tal como o seu criado a descrevera, perguntou-lhe:
- O que é que o meu criado te fez, ou disse, para o assustares daquela maneira, que o fez fugir sem sequer me levar a fruta?
A Morte respondeu:
- Eu não lhe disse nada! Apenas me admirei de o ver aqui, esta manhã.
É que eu tinha um encontro marcado com ele para esta noite, em Samarkanda.
É para lá que vou já de seguida.

Esta é uma lenda que, a meu ver, transmite esta mensagem:
- NINGUÉM FOGE AO SEU DESTINO

SamarKanda é uma cidade do UZBEQUISTÃO,
ex-república soviética da Ásia Central.


No século VII Samarkanda tornou-se um ponto de escala na Rota da Seda. Aqui se encontravam algumas das principais etapas da Rota da Seda



terça-feira, 27 de outubro de 2009

LENDA DE S.VICENTE

LENDA DE S.VICENTE

No Brasão d’Armas que se apresenta na bandeira municipal de Lisboa, encontra-se, ao centro, um barco negro, rematado, à popa e à proa, por dois corvos.



Esta figura foi mandada colocar lá por D.Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, depois da tomada de Lisboa, cidade que dedicou a S.Vicente.
Pensa-se que o significado dessa figura esteja ligado à lenda de S.Vicente.
Esta lenda remonta a quase um milénio, evocando os primeiros tempos da implantação do cristianismo na Península Ibérica, à data sob o domínio de Roma; seguiu-se a ocupação árabe, e, por fim, a Reconquista cristã.

Segundo a «crónica de D. Afonso Henriques», de Duarte Galvão, Vicente terá nascido em Huesca, nos Pirinéus.
Novo ainda foi enviado para Espanha pelo Papa; tornou-se acólito do bispo de Valência, distinguindo-se como brilhante orador.
Estava-se nos tempos do imperador Dioclesiano (284-305 d.C.), que moveu ferozes perseguições aos cristãos. O seu agente para a Península Ibérica era Daciano.
Tomando conhecimento da notoriedade de Vicente, Daciano ordenou que o levassem á sua presença, exigindo explicações pela pregação subversiva que fazia, querendo obrigá-lo a renunciar à fé cristã.
Vicente não se deixou intimidar; ao contrário, louvou Cristo com grande fervor e eloquência, perante o olhar atónito do romano.
Daciano ordenou que o torturassem repetidas vezes, mas Vicente acabou por morrer sem nunca renunciar à sua fé.
O romano vociferou: «Se não o venci em vida, morto o vencerei e desfarei». E mandou que o seu corpo fosse despejado num campo, onde ficou à mercê dos animais selvagens.
O corpo de Vicente não chegou a ser profanado porque um corvo o defendeu, impedindo as feras de se aproximarem.
Ao ter conhecimento do facto, Daciano, furioso, mandou que atassem o cadáver a uma pedra e o deitassem ao mar, para que lá se desfizesse. As suas ordens foram cumpridas.
Mas, por milagre, o corpo de Vicente voltou de novo a terra. Foi recolhido por cristãos que lhe deram sepultura cristã, tendo-lhe sido atribuídos, posteriormente, vários milagres.
O culto de S.Vicente espalhou-se então pela Europa, especialmente na Península Ibérica.


Representação de S. Vicente, com narrativa visual dos episódios principais.

Os conquistadores mouros, quando chegaram, destruíram todos os templos cristãos, convertendo alguns em mesquitas, e queimaram os ossos dos mártires.
Perante a iminência da sua chegada a Valência, os cristãos que zelavam a sepultura de S.Vicente, fugiram levando as relíquias do santo.

No Cabo de S.Vicente, no Algarve, mesmo à beira da escarpa, existe uma capela que foi dedicada a Santa Catarina. No lado oposto encontram-se as ruínas da antiquíssima Igreja do Corvo, dedicada a S.Vicente.
Supõe-se que lá foram depositados os restos mortais do santo, que ficaram a ser guardados pelos cristãos que os haviam trazido de Valência.
Um dia chegou ali um cavaleiro Mouro, de nome Albofacem, natural do reino de Fez, que morava “naquela terra dos Algarves”.
Encontrando os homens a guardar o corpo, matou-os, deixando o corpo.
Afonso Henriques, depois de conquistar Lisboa e estabilizar as fronteiras no Rio Tejo, enviou uns homens numa barcaça ao Algarve, à data ainda território inimigo, a fim de resgatar as relíquias do santo.
Chegados lá desembarcaram, e, orando com fervor, pediram a Deus que lhes mostrasse o local onde se encontravam os restos mortais do glorioso mártir.
Começando a escavar encontraram o corpo. Colocando-o no barco regressaram a Lisboa sem qualquer sobressalto, visto que até o mar se acalmava à sua passagem.
Durante a viagem a barca que trazia os restos mortais do santo foi sempre acompanhada por um corvo, que imediatamente foi relacionado com o corvo que o protegera ainda no tempo dos romanos.
Chegado o féretro a Lisboa, D.Afonso Henriques ficou muito comovido, “louvando muito ao Senhor Deos”, e ordenando que o sepultassem na Sé, onde o corvo continuou a velar o santo e «ali foi visto por muitos tempos»

O brasão tem dois corvos. Se só um acompanhou Vicente na sua última viagem, donde virá o outro? Parece não haver resposta para isso; o que é certo é que, popularmente, começou a constar que dois corvos, e não apenas um, acompanharam a barcaça.
Seja qual for a explicação que se dê, é indiferente, porque se trata apenas de lenda.
Entretanto há várias terras a disputar o corpo de S.Vicente: há relíquias do santo em Castres, Cremona e Bari, pelo menos.

Hoje, S.Vicente é padroeiro secundário de Lisboa, porque, entretanto, apareceu o casamenteiro Santo António.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

LENDA DA FIGUEIRA DA FOZ

A FIGUEIRA (NA FOZ)



A bela cidade de Figueira da Foz, minha terra natal, possui uma das mais bonitas praias portuguesas, conhecida como “Praia da Claridade”.
Penso que poucas pessoas saberão de onde lhe vem o bonito nome de FIGUEIRA DA FOZ.
De pequenina ouvi contar a sua história, que teria começado por ser Figueira NA Foz. Mas o melhor será relatar aquilo de que me lembro:
Conta uma velha lenda que no sopé da Serra da Boa Viagem, que fica muito próxima da cidade, existia um castelo onde vivia um rei, viúvo, e sua filha, Nahida, para além de toda a corte.
Do castelo via-se o mar e a serra, e diziam os “antigos” que, a sul e a nascente, havia um belo rio e uma enorme planície verdejante.
A rainha, que o rei amara perdidamente, morrera ao dar à luz a sua única filha, Nahida. O rei ficara de tal modo transtornado com a sua morte que impôs uma lei que expulsava do castelo todas as famílias que tivessem filhos varões com menos de 20 anos, assim como quem os viesse a ter até 20 anos depois do nascimento de Nahida.
Pretendia o rei, com esta medida, evitar que sua filha viesse a morrer de parto como acontecera com a mãe, a sua idolatrada esposa.
Queria, pois, que a filha, para quem transferira todo o afecto e amor que tivera por sua esposa, vivesse muitos anos, para o que deveria ser casta.
Deste modo a princesinha não poderia conhecer nem brincar com qualquer criança do sexo oposto.
A sua melhor amiga, da mesma idade, Zahra, era a filha mais nova dum rico fidalgo por quem o rei nutria especial simpatia e confiança.
Entre as duas crianças havia uma enorme amizade e ternura.
A vida ida decorrendo normalmente até que uma manhã Nahida foi acordada subitamente pela sua ama que, aflita, lhe contou que seu pai mandara expulsar do castelo toda a família de Zahra.
Durante dois anos a princesa manteve-se presa dum profundo desgosto, que a fazia chorar pela perda da amiga e da crueldade do pai.
Certo dia a princesa arquitectou um plano para fugir do castelo. Esperou pela noitinha e, enganando a vigilância dos guardas, caminhou em direcção ao rio, cuja água brilhava ao luar.
A uma distância razoável do castelo avistou uma árvore frondosa, para os lados da foz do rio. Aproximando-se, viu, escondida entre altos juncos e alguns salgueiros, uma cabana. Encaminhando-se, receosa mas cheia de curiosidade, reparou num pequeno barco ancorado junto à entrada da cabana.
No silêncio reinante pareceu-lhe perceber o som de uma respiração compassada, como de alguém que estivesse dormindo...
Avançando sem ruído, foi entrando, deparando-se, primeiro, com remos, redes e bóias suspensas dos ramos de um salgueiro. A um canto da pequena cabana encontrava-se um catre vazio, coberto por tecido limpo e renda fina. No chão, a seu lado, dormia tranquilamente um robusto cão, de pêlo cuidado.
Tão silenciosa como entrara saiu da cabana e, desistindo de fugir sem descobrir aquele mistério, voltou ao castelo.
No dia seguinte a velha ama contou à princesa que à volta do castelo rondava um bonito e manso cão que parecia trazer amarrado à coleira um pequeno objecto.
Na noite desse dia a princesinha voltou de novo à cabana dos salgueiros.
Dentro da cabana, com todo o cuidado retirou da coleira do cão um pequeno invólucro de cartão que continha dentro um manuscrito.
Surpreendida, desenrolou-o e leu-o com os olhos rasos de lágrimas.
Era uma mensagem da sua companheira de infância que fora expulsa por seu pai.
Dizia-lhe que, se a quisesse ver, fosse junto à figueira, perto da foz do rio, pois que era debaixo dessa árvore que dormia quase todas as noites de verão, por se sentir ali mais fresca e segura.
Nahida acabara de ler o manuscrito que lhe era dirigido. Olhou em direcção à figueira e começou a correr como uma louca em direcção á frondosa fárvore que ficava perto da foz do rio
Ali chegada, depois de se abraçarem e fazerem amor, juraram nunca mais se separarem.
O que acontecera foi que, ao nascer Samuel, lhe fora dado o nome de Zahra, passando a andar vestido de menina. Os pais tentaram evitar, daquela forma , serem desterrados para longe do castelo.
Só que, certa noite de verão, o rei surpreendeu, nus, sua filha e Samuel, beijando-se apaixonadamente,



o que o levou a expulsar do castelo a família de Zahra/Samuel.
E foi por isso que Nahida, depois de ler o manuscrito, correu para junto de Samuel, encontrando-o junto da frondosa figueira que ficava perto da foz do rio
Pouco tempo depois, providencialmente, o rei morreu.
Meses depois ambos resolveram mandar erigir junto à velha figueira um palácio de verão para assinalar para sempre o seu reencontro. À volta desse palácio à beira rio foi surgindo, ao longo dos tempos, uma bonita povoação de onde se avistava, a norte, no coração de Buarcos, o castelo do reino do qual ainda hoje restam vestígios.
A essa nova povoação, virada a sul do castelo, o povo passou a chamar Figueira da Foz, em homenagem àquele atribulado e persistente amor.

Mariazita, Julho de 2007.
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Figueira da Foz em 1888:

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A PARTE MAIS IMPORTANTE DO CORPO

Quando eu era muito jovem, a minha mãe perguntou-me qual era a parte mais importante do corpo.

Eu achava que o som era muito importante para nós, seres humanos; então eu disse:
-As orelhas, mãe.



- Não, disse ela. Muitas pessoas são surdas...
Mas continua pensando sobre este assunto. Noutra oportunidade eu volto a perguntar-te.

Algum tempo se passou até que a minha mãe perguntou outra vez.

Eu tinha pensado bastante e imaginava ter encontrado a resposta correcta.
Assim, desta vez eu disse-lhe:
- Mãe, a visão é muito importante para todos; então devem ser os nossos olhos.


Eu tinha errado outra vez!

Ela olhou-me e disse:
- Estás aprendendo depressa, mas a resposta ainda não está correta, porque há muitas pessoas que são cegas...

Continuei a minha busca por conhecimento ao longo do tempo. A minha mãe voltou ao assunto várias vezes, mas a cada resposta minha, ela retrucava:

- Não...Mas tu estás ficando mais esperta a cada ano.

Então, um dia, o meu avô morreu. Todos estavam tristes. Todos choravam. Até mesmo o meu pai, que eu nunca tinha visto chorar. A minha mãe olhou para mim quando fui dar o meu adeus ao vovô, e perguntou-me:

- Então, já sabes qual é a parte do corpo mais importante?

Fiquei um tanto chocada por ela me fazer a pergunta justamente naquele momento. Sempre achei que era apenas um jogo entre nós duas.

- Hoje é o dia em que necessitas aprender esta importante lição, disse ela.

Olhou de um jeito que só uma mãe pode fazer, e falou:

- Minha querida, a parte do corpo mais importante são os teus ombros.



Intrigada, perduntei:
- Porque eles sustentam a minha cabeça?

- Não, respondeu ela, é porque podem apoiar a cabeça de um amigo ou de alguém amado quando eles choram.
Todos precisam de um ombro para chorar em algum momento da sua vida.

Naquela ocasião eu descobri qual a parte do corpo mais importante. Descobri, também, a importância de ser "simpático" com a dor dos outros.
Porque, naquela hora, quem precisou de um ombro fui eu.



- Espero que tenhas bastante amor e amigos, e que os teus ombros estejam sempre à disposição quando alguém precisar – disse minha mãe.


Sempre que recordo este facto, lembro-me da seguinte citação:
“As pessoas esquecerão o que disseste... esquecerão o que fizeste… mas nunca esquecerão o que as fizeste sentir”


“Os bons amigos são como estrelas... nem sempre as podemos ver, mas sabemos que sempre estão lá.”

quarta-feira, 10 de junho de 2009

UM GRANDE AMOR

Stella estava sentada na sala. Era inverno. Mas o maior frio que ela sentia vinha de dentro. Da alma.

Jamais ela sentira tanto medo da tempestade, dos ventos gelados e da chuva. É que agora estava sozinha.
Seu querido David havia morrido há 3 meses. Ela jamais poderia imaginar que sentiria tanto a sua falta.

Desde que o diagnóstico de câncer terminal chegara, ela se preparara para a morte dele.
Ele também. Homem organizado, deixara toda a papelada em ordem.
Dinheiro não lhe faltaria para as necessidades. Ele pensara em tudo.
Mas a ausência dele era terrível.

Ao terceiro toque da campainha, ela se levantou para atender a porta.
Antes, olhou pela janela, um pouco desconfiada. Afinal, havia tantos assaltos…

Era um rapaz com uma caixa grande. Viu o carro de entregas estacionado em frente ao portão.
Abriu a porta e o ar gélido entrou, tomando conta da sala inteira.

É a senhora Araújo? -perguntou o funcionário.

Ao sinal afirmativo de Stella, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala.
Antes que pudesse indagar qualquer coisa, o entregador, jovial, foi explicando:

A senhora nos desculpe. Era para entregar somente na véspera do Natal. Porém, hoje é o último dia de expediente no canil. Espero que a senhora não se importe.

Entregou-lhe um envelope, abriu a encomenda e retirou o presente: um filhote de cão Labrador.



A carta explica tudo - continuou o rapaz.
O cão foi comprado em Julho, quando a mãe dele estava prenhe.
Ele tem seis semanas de idade e é um cão doméstico.
A senhora espere um pouco que vou buscar o restante da encomenda.

Largou o cãozinho e ele foi se sentar aos pés de Stella, fungando feliz e olhando para ela.

O restante da encomenda era uma caixa enorme de alimentos para cães, uma correia e um livro “Como cuidar de seu cão Labrador”.

Stella continuava parada, estática. Acabara de reconhecer no envelope a letra de David.

Quando o entregador se foi, ela caminhou até à sua poltrona. Tremia toda.
O cãozinho ficou ali, olhando-a ainda com seus olhos castanhos, à espera de um afago.
A carta não era longa mas repassada de carinho.
David a escrevera antes de morrer e a deixara com o proprietário do canil. Era seu último presente de Natal.
Ele havia comprado o animal para lhe fazer companhia. A carta era cheia de amor e lhe dava ainda conselhos e incentivo para que fosse forte, até ao dia em que voltariam a ficar juntos, na espiritualidade.

Ela olhou para o cãozinho e estendeu a mão para o apanhar. Segurou-o nos braços. Pensou que fosse pesado, mas tinha o peso e tamanho da almofada do sofá.
O animalzinho de pelos castanhos lhe lambeu o queixo e se aninhou em seu pescoço.
Ela chorou de saudade. Ele ficou ali, quietinho.

- Então, criaturinha, aqui estamos você e eu.
O cachorrinho fungou, concordando, pondo sua língua rosada para fora.

Stella sorriu.
- Então, vamos para a cozinha fazer uma sopa?
O cãozinho latiu e abanou a cauda, como se tivesse entendido exactamente o sentido de cada uma das palavras.
E acompanhou Stella até a cozinha.

* * *

Na sua imensa sabedoria, Deus criou os animais para auxiliar o homem em suas tarefas, tanto quanto para lhe prover algumas necessidades.
Também para servir de amparo aos que andam sós, aos famintos de afecto.
Tornam-se muitas dessas criaturas, em sua missão de servirem ao homem, excelentes zeladores de vidas humanas.
Ao homem cabe amparar-lhes as vidas e retribuir-lhes com cuidados a atenção e devotamento.
São também eles a manifestação do amor de Deus na Terra.


Do livro “Histórias para o coração” capítulo “Entrega posterior”, de Alice Gray.



Alice Gray é uma conferencista de grande talento.
As suas palestras, ao longo de mais de 20 anos, têm sido ilustradas como histórias interessantes e de grande impacto.

É a organizadora da série Histórias Para o Coração, que já ultrapassou a marca de 5 milhões de exemplares publicados em seu país de origem (EUA).

Outros livros já publicados:
Histórias Para o Coração 2 e 3.
Histórias Para o Coração da Mulher,
Histórias para o Coração do Homem,
Histórias para o coração da Mãe,
Histórias Para o Coração do Professor,
Histórias para corações românticos,
Listas para aquecer o coração.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

HABEAS-PINHO

Em 1955, em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boémios fazia serenata numa madrugada do mês de Junho,



quando chegou a polícia e apreendeu o violão.

Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade, e que também apreciava uma boa seresta.

Ele peticionou em Juízo para que fosse liberado o violão.
Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas-Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.

Eis a famosa petição HABEAS-PINHO

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca:

O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver nem pistola,
É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão,
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade,
Ao crime ele nunca se mistura,
Inexiste entre eles afinidade.

O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas e que povoam a vida
Sufocando suas próprias dores.

O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém seu destino se perpetua,
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Mande soltá-lo pelo Amor da noite,
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito,
É crime, porventura, o infeliz
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, e, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando ali as suas dores?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento,
Juntando esta petição aos autos nós pedimos
e pedimos também DEFERIMENTO.
Ronaldo Cunha Lima, advogado.




O juiz Arthur Moura, sem perder o ponto, deu a sentença no mesmo tom:

"Para que eu não carregue remorso no coração,
Determino que seja entregue ao seu dono,
Desde logo, o malfadado violão! “

Recebo a Petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo em sombra imerso
È desumana e vil destruição
De tudo, que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte à rua, em vida transviada
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de lua, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA HISTÓRIA DE SIMPLICIDADE

Existe uma história de simplicidade linda, que gostaria de contar.
Uma lenda, um acalento dito antes do sonho tocar os olhos de qualquer pessoa.

Não sei se é verdade...e não me importo com isso. Não precisa ser.

Há muito, muito tempo, depois do mundo ser criado e da vida o completar, houve num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno, um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos.
Acredita?

Deus estava sentado, calado, sob a sombra de um pé de jabuticaba.
Lentamente, sem pressa, Deus erguia suas mãos e colhia uma ou outra fruta.

Saboreava sua criação negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava.
Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente.
Foi então que das nuvens um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção.

Já ouviu a voz de um anjo? É como o canto de mil baleias. É como o pranto de todas as crianças do mundo. É como o sussurro da brisa.

Ele tinha asas lindas....brancas, imaculadas.

Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou:

"Senhor...visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos. Estive no sul, no norte, no leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianças humanas. E, por ter visto, vim até o Senhor....para tentar entender.
Porquê? Porquê cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas um asa?
Nós, anjos, temos duas...podemos ir até o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos.
Mas os humanos com sua única asa não podem voar. Não podem voar com apenas uma asa..."

Deus na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo:


"Sim...eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa..."

Intrigado com a consciência absoluta de seu Senhor, o anjo queria entender e perguntou:

"Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas asas para poder voar....para poder ser livre?"

Conhecedor que era de todas as respostas Deus não teve pressa para falar.

Comeu outra jabuticaba, obscura e suave.
Então respondeu...


"Eles podem voar sim meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocês meus arcanjos.... Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas... Embora livre, sempre estará sozinho. Talvez da mesma maneira que Eu....

Mas os humanos....os humanos, com sua única asa, precisarão sempre dar as mãos para alguém a fim de terem suas duas asas. Cada um deles tem na verdade um par de asas....uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par. Assim eles aprenderão a respeitarem-se, pois, ao quebrar a única asa de outra pessoa, podem estar acabando com as suas próprias chances de voar.

Assim meu anjo, eles aprenderão a amar verdadeiramente outra pessoa...aprenderão que somente permitindo-se amar eles poderão voar. Tocando a mão de outra pessoa em um abraço correto e afetuoso eles poderão encontrar a asa que lhes falta...e poderão finalmente voar. Somente através do amor irão chegar até onde estou...assim como você meu anjo. E eles nunca....nunca estarão sozinhos quando forem voar."

Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.

E assim sendo, no fim desse conto, espero que um dia você encontre a sua outra asa.
Para finalmente poder voar.

(Moacir Novaes )

Moacir Novaes é médico endocrinologista, e colabora, com artigos sobre medicina, no jornal Diário de Pernambuco

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A LENDA DO LAGO


Capela de Santo António - S.Martinho do Porto - foto de Pedro Libório em Pedro Libório's Photo Galleries at pbase.com

A LENDA DO LAGO

N'aquela tarde calma fora a pesca abundante,
Sant’António do seu nicho, assiste vigilante
À faina. Os pescadores largam já d’amarra

E, como o mar manso, lá vão de proa à barra

Alegremente em fila, o porto demandando.
O leme vai na orça, velozes vão passando
Na linha da “ carreira “. Em
frente da capela;
O Santo vai contando, um por um, vela por vela.


O sol é posto já. Traiçoeiro a refrescar

O vento aflige o Santo e atormenta o mar.

Toldou-se o céu também, logo a terra escureceu

E no regaço o Santo Jesus adormeceu.
Já nas ondas envergam os novelos d’espuma

Mas, na conta das velas, inda falta uma!

Nos lábios d’António, trémulos d’amargura
Alguma praga ao mar, entre as preces se mistura.


Um ponto branco, ao sul, lá longe entre a procela,

Traz rumo aproado, à alvura da capela.

O bom do Santo ao ver, essa asa de gaivota
Que, tão audaz, procura a linha da derrota,
Empalidece, e treme, temendo-lhe o destino.
Não se atreve porém a acordar o seu Menino.
E murmura: “Jesus, Senhor! A vaga é tão alta”

E aquela vela é a mais pequena que me falta”


Enquanto dura a luta, entre o mar e a vela,
António nota já não ser deserta a capela.

Uma pobre mulher, nos degraus ajoelhada

Cinge contra o seio, uma cabecita dourada;

No seu ardente olhar e nos olhos da criança,
O ponto branco brilha, como um farol d’esperança
E o pescador afoito, aproa sempre a vela
Ao vulto da mulher, à brancura da ca
pela

O mar redobra a fúria, é um leão rugindo
E tranquilo Jesus, no regaço vai dormindo;

Mas avistando o pano, roto já p’la rajada
A cabecita d’ouro exclama apavorada:

“Ó mãe? Ó minha mãe?”

“É o meu pai, que lá vem?!

”N’isto; o Menino acorda e mui mal-humorado,

O aio santo increpa, de sobrolho carregado;
“O que foi isto António?” – “Quem foi que se atreveu?

”O Santo aponta a medo, a vela, o mar, o céu.


Nos olhos da mulher, onde a vela é agravada

Uma lágrima... Uma pérola pendurada.

Desvairado, ao vê-la, implora Sant’António:

“Senhor... fazei bonança... O mar é um de
mónio... “
Jesus serenamente, do nicho então desceu,
Com uma mãozita em concha, a pérola colheu,

O seu rosado braço, enérgico balança
E às ondas infernais, a humilde jóia lança.

Depois... s
orriu ao Santo com divino afago
E no mar, defronte da capela, fez-se um “lago”.


Um Pescador



S.Martinho do Porto

quarta-feira, 29 de abril de 2009

CÉU E INFERNO ÍNTIMOS

CÉU E INFERNO ÍNTIMOS

Conta-se que um dia um samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole violenta,


foi procurar um sábio monge em busca de respostas para as suas dúvidas.


- Monge, disse o samurai com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno.
O monge, de pequena estatura e muito franzino,olhou para o bravo guerreiro e, simulando desprezo, disse-lhe:
- Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. O seu mau cheiro é insuportável.
Além disso, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe.
O samurai ficou enfurecido.O sangue subiu-lhe ao rosto e não conseguiu dizer uma palavra, tamanha era a sua raiva.
Empunhou a espada,ergueu-a sobre a cabeça...e preparou-se para decapitar o monge.
- “Aí começa o inferno” - disse-lhe o sábio mansamente.
O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem impressionara-o. Afinal, arriscara a própria vida para o ensinar sobre o inferno.
O bravo guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento.
O velho sábio continuou em silêncio.
Passado algum tempo o samurai, já intimamente pacificado, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz.
Percebendo que seu pedido era sincero, o monge falou-lhe:
- "Aí começa o céu".

Para nós, resta a importante lição sobre o céu e o inferno que podemos construir no nosso próprio íntimo.

Tanto o céu quanto o inferno, são estados de alma que nós próprios elegemos no nosso dia-a-dia.
A cada instante somos convidados a tomar decisões que definirão o início do céu ou o começo do inferno.

É como se todos fôssemos portadores de uma caixa invisível, onde houvesse ferramentas e materiais de primeiros socorros.
Diante de uma situação inesperada, podemos abri-la e lançar mão de qualquer objeto do seu interior.

Assim, quando alguém nos ofende, podemos erguer o martelo da ira ou usar o bálsamo da tolerância.
Visitados pela calúnia,podemos usar o machado da revide ou a gaze da autoconfiança.

Quando a injúria bater à nossa porta, podemos usar o aguilhão da vingança ou o óleo do perdão.
Diante da enfermidade inesperada, podemos lançar mão do ácido dissolvente da revolta ou empunhar o escudo da fé.

Ante a partida de um ente caro, nos braços da morte inevitável, podemos optar pelo punhal do desespero ou pela chave da aceitação.
Enfim, surpreendidos pelas mais diversas e infelizes situações,poderemos sempre optar por abrir abismos de incompreensão ou estender a ponte do diálogo que nos possibilite uma solução feliz.

A decisão depende sempre de nós mesmos.

Somente da nossa vontade dependerá o nosso estado íntimo.
Portanto, criar céus ou infernos, portas adentro da nossa alma, é algo que ninguém poderá fazer por nós.

Pense nisso!
A sua vontade é soberana.

A sua intimidade é um santuário do qual só você possui a chave.

Preservá-la das investidas das sombras e abrI-la para que o sol possa iluminá-la só depende de você.

Pense nisso!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

LENDA DA SERRA DA ESTRELA

Lenda da Serra da Estrela

"Era uma vez um jovem pastor que vivia numa longínqua aldeia. Por único amigo tinha um cachorrinho, que, nas longas noites de solidão, se deitava a seus pés sem esperar nenhum gesto, nenhuma palavra.
Sofria este pastor de uma estranha inquietação: cismava alcançar uma Serra enorme que via muito ao longe, as terras que existiam para lá da muralha rochosa que constituía o seu horizonte desde que nascera. E muitas noites passava em claro, meditando nesse seu desejo infindável.
Certa noite em que se julgava acordado, sonhou que uma estrela descia até a si e lhe segredava que o guiaria até ao objecto dos seus desejos.
Acordou o pastor mais inquieto e angustiado que nunca, e procurou no céu a verdade do que sonhara.
Lá estavam todas as estrelas iguais a si mesmas, imutáveis e eternas, aparentemente. Mas estava também uma que lhe pareceu diferente, a mais sua.
Passavam-se os dias e o desejo do pastor aumentava, fazia doer-lhe o corpo, ardia-lhe febril na cabeça. De noite, todas as noites, procurava no céu a sua estrela diferente. E em sonhos ela aparecia-lhe muitas vezes desafiando-o, desafiando-lhe sempre a vontade. Mas a vontade por vezes é tão difícil!
Uma noite, num ímpeto, decidiu-se. Arrumou tudo o que tinha, e era nada, chamou o cão e partiu. Ao passar pela aldeia o cão ladrou e os velhos souberam que ele ia partir. Abanaram a cabeça ante a loucura do que assim partia à procura da fome, do frio, da morte. Mas o pastor levava consigo toda a riqueza que tinha: a fé, a vida e uma estrela.
E o pastor caminhou tantos anos que o cão envelheceu e não aguentou a caminhada.
Morreu uma noite, nos caminhos, e foi enterrado à beira da estrada que fora de ambos.
Só com a sua estrela, agora, o pastor continuou a caminhar, sempre com a serra adiante. E, à medida que caminhava, a serra ia sempre ali, no mesmo sítio e à mesma distância. Passou todas as fomes e frios que os velhos lhe tinham vaticinado.
Atravessou rios, galgou campos verdes e campos ressequidos, caminhou sobre rochedos escarpados, passou dentro de cidades cheias de muros e gente, mas a montanha dos seus desejos nunca a baniu do coração.
Por fim, já velho, alcançou a muralha escarpada que desde a infância o chamava. Subiu até ao mais alto da serra e ali pôde então largar o desejo do seu coração, agora em paz e sem desejo.
O horizonte era vasto, tão vasto e maravilhoso, a impressão de liberdade tão avassaladora que o pastor, sem falar, gritava dentro de si um hino de louvor que mais parecia o vento uivando por entre os penhascos rochosos de silêncio.
Instalou-se o velho pastor e a sua estrela com ele, no céu.

O rei do mundo, porém, ouviu falar naquele velho pastor e na sua estrela fantástica. Mandou emissários à serra: todas as riquezas do mundo daria ao pastor em troca da sua pequena estrela.
O pastor ouviu com atenção o que lhe mandava dizer o rei. Depois, olhou em volta. Tudo eram pedras e rochedos. Uma côdea de pão negro e uma gamela de leite as suas refeições. A sua distracção a paisagem "infinitamente" igual e diferente do mundo lá em cima. A sua única amiga, a estrela.
Suavemente, como quem sabe o segredo das palavras e o valor de todos os bens possíveis, virou-se para os emissários do rei do mundo e rejeitou todos os tesouros da terra, escolhendo a pequenez da sua estrela.
Passaram os anos e o velho morreu. Enterraram-no debaixo de uma fraga e nessa noite, estranhamente, a estrela brilhou com uma luz mais intensa. Os pastores da serra notaram essa diferença porque a reconheciam também entre as outras, pelo que o velho lhes contava em certas noites.
E desde então a serra passou a chamar-se, para sempre Serra da Estrela".

NEM TODOS OS TESOUROS DO MUNDO PAGAM A REALIZAÇÃO DE UM SONHO.

Serra da Estrela no Inverno

Serra da Estrela no Verão

Serra da Estrela – Lagoa Comprida

domingo, 12 de abril de 2009

O MISTÉRIO DA ROSA LILÁS

O MISTÉRIO DA ROSA LILÁS

A Sexta-feira da Paixão é uma data cósmica. Nos éteres planetários existe uma gigantesca cruz de luz branca, de cujo centro brota e aos poucos desabrocha um imenso botão de rosa lilás, a cada Sexta-feira Santa
Ao meio-dia, essa rosa alcança o ápice do desabrochar e, de seu interior, emana o néctar da Misericórdia e Compaixão. Seu doce perfume envolve todo planeta e cada criatura. Essa doce radiação, que vem das profundezas do Coração do Cristo Crucificado, tudo abençoa, redime e transforma.
Da mesma forma que há dois mil anos o Cristo foi traído, criticado, hostilizado, julgado e condenado, continuamos a cometer atrocidades semelhantes contra o nosso Cristo Interior e contra o Cristo em nossos semelhantes.
A crucificação do Cristo Interior acontece sempre que confiamos no mundo exterior, ou seja, no dinheiro, remédios, oráculos e toda a sorte de absurdos. Acontece quando nos esquecemos do poder total e único do nosso Cristo Interior.
Ao deixarmos de confiar na vida - a centelha Crística que nos habita - acreditamos que: “eu não sou, eu não tenho, eu não posso, eu estou doente etc.”, assim retirando o poder da Divindade que somos, que é saúde plena e a fonte de toda a sabedoria, riqueza e abundância, que é Senhor do nosso mundo, nosso mestre interior, o nosso guia.
Cada pensamento de separabilidade, de desamor, cada palavra de crítica ou julgamento é um espinho que fincamos na cabeça do Cristo em nossos semelhantes. Cada pensamento ou palavra de desconfiança ou condenação que emitimos contra alguém é mais um prego crucificando o Cristo naquela pessoa.
Quando o homem põe fogo na terra, queimando e devastando árvores e seres vivos indefesos, a pródiga Mãe Natureza envolve todos esses erros com seu manto de misericórdia e, generosamente, manda a chuva que apaga o fogo. E faz brotar, da devastação, flores belas e perfumadas.
Semelhantemente, dos éteres planetários onde permanece a cruz, do centro do coração crucificado, Deus-Mãe faz brotar essa rosa lilás que desabrocha em misericórdia e regeneração para toda a humanidade.
Conectando-se com este Centro de Transmutação, cada um de nós pode voltar-se para o Cristo Interior e, com a acção balsamizante do perfume da rosa lilás, retirar os espinhos e pregos, e regenerar o Cristo em nós e em cada pessoa, devolvendo-lhe todo o amor, poder, confiança e devoção.
Então, no Domingo de Páscoa, todos podemos desfrutar da Chama da Ascensão, entrando na plena consciência de “Eu Sou a Ressurreição e a Vida”.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

FLOR DE LOTUS

FLOR DE LOTUS



Eis uma lenda budista que explica o aparecimento da Flor de Lótus.

Certo dia, à margem de um tranquilo lago solitário, onde se erguiam frondosas árvores com perfumadas flores de várias cores,
e coalhadas de ninhos onde aves canoras chilreavam, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra.

- Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva
- disse o fogo, cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.

- É verdade - disse o ar. É um destino bem curioso, o nosso.
À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.

- Não te queixes - disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei,
e é um Divino Prazer servir a Criação.
Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte. Eu faço o mesmo.

- Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar, no mesmo espaço.

- Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfluas. É melhor festejarmos estes momentos em
que nos encontramos fora da forma.
Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.

Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo.
Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído.

Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho.

Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem. Ah! Como ele era ingrato!

Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais,
e o homem abusava deles, perdendo-os.

Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico. Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos.

Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse, através das idades, a felicidade de seu encontro.

Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles, harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem.

Houve muitos projectos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes.
Por fim, reflectindo-se no lago, os quatros disseram:
- E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela?

A ideia pareceu digna de experiência.
- Eu porei as melhores forças das minhas entranhas – disse a terra; e alimentarei as suas raízes.


- Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste.
- Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta.
- Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores.

Dito e feito. Os quatro irmãos começaram a sua obra.
Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores.
O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha.


(LENDA BUDISTA)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

UMA PESCARIA INESQUECÍVEL

Para inaugurar o meu “Histórias de Encantar” não escolhi o mês de Abril por qualquer motivo especial.

Podemos, se sentirmos necessidade de arranjar uma justificação, dizer que…Abril é o mês quatro… ; “Histórias” é o quarto blogue em que tenho voz activa – A Casa da Mariquinhas, Sempre Jovens, Olhai os Lírios do Macuá, e, em quarto lugar, Histórias de Encantar.

A história escolhida também não tem nada a ver com o dia – 1º.de Abril, dito “dia das mentiras”.

Embora se trate de uma história de pescaria, as quais, tradicionalmente envolvem mentiras ou, no mínimo, um certo exagero, esta não é mentirosa nem exagerada.

É, sim, uma história muito bonita, que espero vos agrade.


Ele tinha onze anos e, a cada oportunidade que surgia, ia pescar no cais próximo ao chalé da família, numa ilha que ficava em meio a um lago.



A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava liberada.

O menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água.

Logo, elas se tornaram prateadas pelo efeito da lua nascendo sobre o lago.

Quando o caniço vergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha.

O pai olhava com admiração, enquanto o garoto habilmente, e com muito cuidado, erguia o peixe, exausto, da água.

Era o maior que já tinha visto, porém sua pesca só era permitida na temporada.

O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras movendo para trás e para frente.

O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio.

Pouco mais de dez da noite...



Ainda faltavam quase duas horas para a abertura da temporada.

Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo:

- Você tem que devolvê-lo, filho!
- Mas, papai, reclamou o menino.
- Vai aparecer outro, insistiu o pai.
- Não tão grande quanto este, choramingou a criança.



O garoto olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista.
Voltou novamente o olhar para o pai.

Mesmo sem ninguém por perto, sabia, pela firmeza em sua voz, que a decisão era inegociável.

Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura.

O peixe movimentou rapidamente o corpo e desapareceu.

Naquele momento, o menino teve certeza de que jamais pegaria um peixe tão grande quanto aquele.

Isso aconteceu há trinta e quatro anos. Hoje, o garoto é um arquiteto bem-sucedido.

O chalé continua lá, na ilha em meio ao lago, e ele leva seus filhos para pescar no mesmo cais.

Sua intuição estava correta. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite.

Porém, sempre vê o mesmo peixe todas as vezes que depara com uma questão ética.



Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de
CERTO e ERRADO.

Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa.

A ética, porém, está em agir corretamente quando ninguém está nos observando.

Essa conduta reta só é possível quando, desde criança, aprendeu-se a devolver o PEIXE À ÁGUA.


James P. Lenfestey

A boa educação é como uma moeda de ouro:
TEM VALOR EM TODA PARTE.